O que os americanos pensam do Brasil

É importante percebermos que os eleitores do Bolsonaro de 2018, quando ele se apresentava, estranhamente, como um outsider — ainda que tenha passado 28 anos na Câmara dos Deputados, como um parlamentar de terceira categoria, tão insignificante que nunca entrou para os grandes esquemas de corrupção — usaram sua inexpressividade como sinal de virtude e honestidade. Nunca foi honesto, ainda mais sendo um político que se fez dentro da corrupção da ALERJ, que tem de tudo: bicheiro, assassino e até deputado que mata criança. No entanto, diante do cenário da Lava Jato e de toda a corrupção que aconteceu durante os governos petistas, qualquer coisa parecia ser melhor.

Ninguém, no entanto, poderia imaginar que uma pandemia atravessaria o governo Bolsonaro, e toda sua incapacidade deixaria de ser apenas uma questão de vergonha — passou a ser questão de vida ou morte. A condução das ações de combate à COVID-19 não poderia ter sido mais desastrosa. Negacionismo e ambição produziram mais de 700 mil mortes.

O impacto foi tão devastador que sublimou até os esquemas de corrupção que levaram Lula à cadeia. No Brasil, todo mundo é corrupto — inclusive o juiz do caso. E mesmo com todo o aparelhamento, com todo o sistema de fake news, com a máquina pública na mão, com auxílio emergencial, orçamento secreto… não adiantou: Bolsonaro foi o primeiro presidente a não se reeleger desde a redemocratização.

A cereja do bolo ainda estava por vir. Não obstante a derrota, Bolsonaro — que bateu continência para a bandeira americana, acreditou na hidroxicloroquina do Trump, transformou o Brasil no segundo maior país antivacina do mundo — resolveu copiar Trump nas eleições que perdeu, com um ar bem particular e mais violento. Planejou um golpe, articulado junto à ideia de assassinar o presidente e o vice. O que poderia dar errado, não é mesmo?

Em 2018, se você votou no Bolsonaro, você era desinformado. Em 2022, você se tornou um negacionista e conspiracionista. Continuar idolatrando o Bolsonaro, mesmo após a fuga covarde diante do caos, usando alguma desculpa “comunista”, me parece indicar que você entrou de vez para o grupo dos golpistas. É melhor abandonar o barco Bolsonaro, pois terão vantagens aqueles que saírem na frente na corrida por quem tomará o seu lugar.

É provável que o desentendimento e a falta de alguém que consiga abrigar todas as vertentes da direita certamente gerarão uma guerra civil dentro do “Brasil Paralelo” em que vive a direita brasileira.

Não estou fazendo julgamento de valor. Estou dizendo que, quanto antes você abandonar Bolsonaro, menos risco você corre de afundar junto.